Mas gosto, sobretudo, de blogar os meus pensamentos. É como fazer um filho e expô-lo na roda: "fiz isto e quem gostar que o leve, que lhe dê alimento e que lhe mantenha a vida!". Blogar é ser solitário no meio das gentes. E fazer esta troca de comentários que é como quem anuncia: "Estou aqui". E interpela: "Há alguém aí?".
Escrever e blogar são prazeres. E, como prazeres, requerem disponibilidade de recursos, esforço prolongado e sofrimento consentido. E é este sofrimento, como o orgasmo, que traz o alívio.
Sofrer uma incapacidade não traz alívio. Não traz alívio depender da intervenção alheia para mudar de posição, sentar à mesa de trabalho, mudar as pilhas do rato ou os cartuchos da impressora. Todo o sofrimento imposto humilha. E mais ainda aquele que não se percebe, que não faz sentido, que baralha e faz perder a confiança em todos os parâmetros conhecidos da realidade. Porque não consigo parar a comichão que se me instalou entre os dedos, memória de um velho pé de atleta, numa perna que não existe, que apodreceu com a gangrena, que foi sacralmente incinerada em ritual hospitalar? Posso garantir que a comichão está ali, precisamente ali, e apontar o local exacto: - Não, não, mais para o lado, desculpem, tive que destraçar a perna que estava numa posição incómoda. - Mas qual perna? - A perna "não". - Esta? - Não, essa é a perna "sim". E desbobinar infindamente esta conversa e a gente a pensar como é que esta gente vai entender? E eles a pensar: ao ponto a que isto chegou, ele agora vê pernas e pés, sente pernas e pés, que são só para sentir, já nem servem para andar, para levantar e sentar.
Escrever e blogar parece ser uma coisa só de usar a cabeça. Do género: ah! agora tive uma ideia. Pego a ideia delicadamente entre o polegar e o indicador, levanto-a a uma altura cómoda para a vista e penso: que linda ideia que está aqui, vamos escrevê-la. E zaque-zaque-zaque, e truz-truz-tuz. É simples, olha como a ideia ficou tão linda vestida de escrita!
Fosse escrever e blogar usar só a cabeça, mas não! Penso que é como no futebol embora não saiba nada de futebol. Acho que são precisas duas pernas para correr, os pés para conduzir a bola e, se der jeito, chegadinha à boca da baliza, a cabeça até pode dar o remate final. Como a escrever e a blogar...
Agradeço às amigas e amigos que me têm visitado, virtualmente, nos meus blogues, real e fisicamente, no Sítio do Tremontelo, e que insistem para voltar a escrever. Sei que tenho que ultrapassar esta fase, sei que esta é uma fase. Lá desculpa tenho: é-me difícil; e o tempo, dividido entre a fisioterapia e as consultas de preparação para a prótese a ser feita na Alemanha, escasseia. Todavia, com mais ou menos esforço, estarei sempre aqui para dizer: "ói!"
2 comentários:
.________meu querido Piratinha Rodrigo
como eu admiro a tua força_____ainda "brincas" com a tua dor
.mas eu estou tão triste.tão triste____estava a ler-te e a sentir um aperto no coração___é de facto uma fase difícil - mas tu vais ultrapassar com a tua força - não só física como psíquica e espiritual
.por favor sempre que puderes_____dá-me noticias______eu passarei sempre por aqui
.sentindo-te meu amigo
beijO____ternO
Olha Rodrigo, vou deixar-te um cadeau,que espero te ajude a enfrentar com coragem estes tempos de difícil adaptação. Aí vai:
Pedaço de mim
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade doi como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar o cais
(...)
O cadeau continua ali em cima:))
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