sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Podado (clicar aqui para comentar)

fui podado fui
literalmente
podado

podado de poda entendem ?
?
ó entendidos da poda
entendem ?


Nas árvores há podas de formação e há podas de regeneração Não foi esse o meu caso que não sou árvore Antes parecia-me com um ser humano hoje sou uma estátua a procurar equilíbrio um galho entrelaçado em si mesmo um monópode bi-estacado Vão pensar Está surrealizado

______{injectou demasiada substância na veia
______________{descobriu papoilas dormideiras debaixo das silvas
______________________{experimentou os cogumelos azuis


Recebi pelo Natal um Kubota da Série B Tudo bem. Encantado. Adjectiva e adverbialmente surpreendido. Experimentei o kubota de dia e de noite de noite e de dia nas equinoites equidias periequinociais

Andei de kubota para a frente | sárt arap atobuk ed iednA

Até que o kubota deu uma cambalhota


Nunca tinha experimentado cambolhotar a estória conta-se de uma pernada (inferno! A linguagem humana!) A nova horta estava preparada para receber a cava estrume de vaca e de cavalo espalhados a lona de cobertura pronta a estender para esconder o trabalho da geada furtiva da madrugada


Estou enjoado lá fora que é cá dentro avolumam-se ramos espessos de algodão cinzento que andou a limpar a fuligem das chaminés e a poluição da atmosfera a luz ténue é porque é luz espalhada nas coisas que dizem que são coisas porque há luz porque eu as vejo e não sei se continuarão a ser coisas no dia em que as não vir Escondo-me e aconchego-me no interior do meu corpo diminuido podado amputado pela puta da vida que o podou não sei se a intenção era ceifá-lo cortá-lo cerce pela raíz que o liga à terra Estou enjoado preparado para a água das pedras e para esta escrita que me sai do coto da mente num espicho de sangue e fel

Que a querida patanisca me obrigou a escrever faz-te bem Rod deita cá para fora deita cá para fora eu mergulhava nos dois lagos das lágrimas doces da patanisquinha vai-te não percas tempo com um velho faz a tua vida



Quem diria que o fofinho se armava cão e se me punha a correr à frente do kubota só tive tempo de dar uma guinada embater no carvalho

((( Parti a merda da garrafa de cerveja daqui a um bocado vem a Gertrudes limpar os cacos e ralhar comigo que o doutor devia deixar de beber até fica mal numa pessoa com tão boa figura raios a partam estátua de cera virgem de hímen empedernido consagrada à virgem aos santos e à padralhada não percebi se é uma falsa católica como as fausses blondes se uma daquelas vestais consagradas à deusa antiga o cheiro irritante da cerveja invade-me ad nauseum o portal da consciência


Senti o choque do carvalho o arrepelão que me tirou do assento o frio que se me meteu espinha adentro as rodas do kubota a girar no céu azul como grandes estações espaciais no dia do glorioso êxodo da épica humanidade para a distante Andrómeda Desbobinou-se-me a vida em imedidos momentos de confusão senti a perna dobrada debaixo do corpo e os miados insistentes do fofinho que em cima do peito lambia-me a cara passando a lixa áspera da língua dele nas pálpebras como se dissesse não durmas aguenta-te eu vou chamar a farrusca o cão grande do vizinho chamar o homem chamar a mulher chamar gente grande para te tirar daqui debaixo mas tu não me deixes não nos deixes tu és do nosso mundo tu és o nosso mundo


Pobre fofinho que agora não sai daqui noto que está enojado com o cheiro da cerveja que ele já aprendeu a evitar nas armadilhas dos caracois descobriu que a caixa do computador é um poleiro excelente para se aquecer não gosta é do barulho da ventilação do disco que desafia a poder de dentes arreganhados e de fuças furibundas Pensei é desta que estou feito se ninguém me tira daqui Sei que estive mais de um dia debaixo do kubota talvez dois mas esmoreceu-se-me a lembrança só dei comigo no hospital quando vi o homem de vestes brancas e um holofote potente ainda pensei estamos no teatro e não sei o papel que me coube Fez-me várias perguntas em tom profissional e semi-interessado se me sentia bem se tinha dores se me lembrava de uma data de coisas se sabia quem eu era

quem eu era?


respondi-lhe que perdido


Disse-me não está todo perdido ainda tem muita vida pela frente vamos ter é que lhe amputar a perna

15 comentários:

Fragmentos Betty Martins disse...

._______querido Rodrigo


fiquei muito triste ao saber que não estava bem


desejo de todo o coração. meu amigo que corra tudo pelo melhor


e Deus ajudará com toda a certeza



.passarei sempre por aqui

para saber notícias do meu amigo



um grande abraço

Justine disse...

Se este desabafo te ajuda a desenjoar dos solavancos do Kubota e da vida, vá lá, continua, que eu prometo que venho cá ler todos os dias - para desconto dos meus pecados...
E, enjoado, mórbido, podado e tudo, que sejas muito bem-vindo!

Alberto Oliveira disse...

... há sempre um Kobota, um Tamanko ou um Kasapato (estas multinacionais japonesas proliferam por tudo quanto é sítio e o Lugar de Tremontelo não fugiu à regra) que se atravessa na nossa efémera vidinha para o melhor e para o pior. Pelas notícias que nos dás, não foste bafejado pela sorte e lamento-o. Quase me atreveria (atrevo-me pois) a acrescentar que grande poda te calhou pela proa!
Mas meu amigo, depois de uma poda desse calibre, há que seguir em frente e não olhar para a rectaguarda para não dar confiança aos imensos Kobotas que por aí andam e que são do nosso descontentamento.
Este teu regresso pode querer dizer que voltamos a contar contigo. Quero acreditar que sim.

abraço.

Arábica disse...

Ora porra, Rodrigo, logo um kubota, logo dois dias, logo um fofinho que não sabia escrever, logo toda esta escrita de enxorrada, que sim, que ajuda a espantar o enjoo, a dor, o medo, a secar a lágrima a calar o palavrão a adiar tudo o que é legitimo sentires, mas que sabes, porque a cerveja só te enjoa e não te tira a lucidez, que não vale a pena pensares.

Porque tens mais um filho da mãe de desafio pela frente, este grande, ora porra, tão grande que até abanas, mas não cais.

Desta não cais.

Nem dás cambalhotas pelos tempos mais proximos, que estás proibido.

Escreve.

Para nós e para os azulejos.

E para ti.

Para perceberes que estás vivo, que o campo espera por ti, que a primavera nem por tua causa vai chegar mais tarde e que tu, TU, vais ter que fazer frente a tudo isso.

Conta connosco no possível.


Nós contamos contigo, porque um homem não se mede aos palmos nem pelas podas da porra da vida.



Um abraço e vê lá se não partes mais garrafas.


Visita-me. O trajecto é curto, virtual e podes ir ao pé coxinho. Fiz-te rir? :-D

Arábica disse...

Há 8 anos parti uma perna. Fiz uma tibiotarsica, que significa que fiquei com o pé para traz.
Coxeei durante anos. Quando chove ainda coxeio se abuso em caminhadas. Tinha um cão que tomava conta de mim. Quando eu ia ao pé coxinho para a cozinha ele seguia-me. quando me via dirigir à casa de banho, ultrapassava-me e abria a porta.
Aprendi a descer as escadas do meu prédio, sentada, pelos degraus abaixo. Subia sentada.
Morava num 3º andar. Sei o que sentes. Desculpa se não te fiz rir e se me entendeste como uma mal educada.

Fragmentos Betty Martins disse...

._______querido amigo Rodrigo


adorei o seu comentário_____o seu espirito:=)a do "piratinha" foi o máximo!
____a vida tem destas vicissitudes.mas também é muito bela___e a "mãe natureza" ajuda-nos a sorrir:=)

.um grande abraço querido amigo "piratinha"

Arábica disse...

Bom dia Rodrigo!



Como estás hoje?


E os cogumelos da foto?

Por aqui, chuva, muita chuva...


Um abraço

Justine disse...

Borracho? Borracho? Aquele "já" pelo meio da frase leva-me a chamar-te a atenção para o facto de que é um total contrasenso semântico a utilização deste qualificativo em relação a uma sexagenária...mas relevo a falta de rigor devido ao teu estado convalescente, que espero tenha evoluído para muito melhor nestes últimos dias!
E também já tiveste tempo para fortalecer os músculos dos baços, portanto toca a escrever - leitores não te faltam. E o meu ombro continua disponível, para os desabafos necessários:))
Abraço

Arábica disse...

Ora então isto são coisas que se façam Sr.Perdido?

Nunca mais uma palavra, um "postzinho" por mais pequeno que fosse...sei lá...um "Olá"? Um "até logo" ? um "tá de chuva" ?


Eu continuo a passar por cá mas bato sempre com o nariz nos azulejos :))

Licínia Quitério disse...

Espero que estejas bem melhor dos males que te têm apoquentado, sejam eles quais forem.
Agora é tempo de aguardar a Primavera. Não te percas muito por aí.

Um beijinho.

Anónimo disse...

Soube pela Patanisca que algo te tinha corrido mal, mas acabei por não entender...É que também tinha dificuldade em orientar-me nos teus blogues, nem encontrava sítio onde comentar.
Finalmente foi a Justine, a quem pedi ajuda, que me me salvou, para não ficar tão perdida como tu!
Espero que estejas a começar, devagarinho, a aceitar, contrariado, aquilo que a porcaria da vida decide oferecer-nos, mesmo sem pedirmos nada!

Um grande abraço

Rosa dos Ventos

bettips disse...

Fiquei varada com o que li e como foste acontecer-te num mau momento. Nunca sei bem, sabes que não sei das confusões. Só lembro o teu riso e olhos marotos numa noite de grupo perto de praia, com ruas vazias. Onde sobrava o calor da amizade, confortável.
Como aqui, R.
Quem quer que sejas e eu plasmo figuras e escritas (e pasmo): porque és o que (me)escreve/escreveu, esse que conheço e o mesmo. O verdadeiro.
Os meus abraços ínfimos mas infinitos.
Sendo um ponto prolongado____________________________
que não é por moda, é por (te)pensar, seguidamente a tantas coisas más. Hiato.

Fico então do lado de cá da linha: disponível.
Queiras brincar ou não. Aos piratas, aos poetas, aos filosofemas.
Beijo

magix disse...

Bem, bem, a coisa vai de mal a pior...amputado, o nosso Perdido? ou não terei percebido bem? Confesso que às vezes é dificil de entender...as voltas que o mundo dá! Bem.....

dona tela disse...

Andamos para aqui a fazer catarses, é o que é.

Arábica disse...

Aqui estou. Não é por estar de férias da cidade que deixaria de vir. Espero que estejas a digerir, que estejas a sobreviver. Lembra-me uma canção que em tempos fez sentido para mim: Overcome. Há por aí AgroTurismo? Onde vamos ficar no dia do tal almoço? ou julgas que nos esquecemos? Ou julgas que...?


Um abraço.